Administrar qualquer empresa é extremamente difícil, quando o mercado não está num bom momento isso se torna mais desafiador ainda. O Consultor de Orientação Empresarial do Sebrae/SP Sérgio Diniz escreveu um resumo sobre como atuar em empresas que estão passando por momentos de crise e nos quais seu mercado muda a cada virada de mês. Isso acontece na pecuária de leite também? Vamos as dicas feitas por ele e a alguns comentários sobre a pecuária leiteira:

  1. Comprar bem: “Adquirir mercadorias com especificações corretas, em quantidades adequadas, de boa qualidade e por preços competitivos são as dicas para esse momento” (Sérgio Diniz). Isso quer dizer que o desespero não pode tomar conta do empresário. No entanto, é comum deparar com produtores que nesses momentos passam a comprar matérias primas de qualidade inferior, por pensar única e exclusivamente no preço das mesmas. Comprar bem é conseguir negociar produtos de qualidade para não comprometer a qualidade e a eficiência de produção da fazenda. Neste sentido, o produtor deve se atentar especialmente para os índices reprodutivos das vacas e novilhas, pois os efeitos negativos de uma “economia mal feita” neste momento resultará em menos animais produzindo no ano seguinte, o que gerará menor receita no mesmo período também.
  2. Controlar os estoques: “Controlar o valor médio dos estoques, o estoque atual, grupos de produtos que pesam mais nos estoques, rotatividade-giro, valor médio de perdas por quebra, furto ou prazo de validade” (Sérgio Diniz). Quando se fala de controlar os estoques médios, é importante que o produtor entenda a importância de analisar o custo de produção médio do ano, lógico sem esquecer-se do fluxo de caixa que é fundamental para a empresa rural também. É interessante analisar o item relacionado ao controle de perdas. Numa propriedade rural, as perdas por mastite podem voltar a acontecer nos momentos de crise justamente por algumas economias erradas e/ou desatenção no manejo causado por desânimo da equipe e do proprietário. Quando se pensa a respeito da alimentação do rebanho o volumoso produzido erradamente sofre muito, pois é comum diminuir a adubação, mudar de híbrido, diminuir o número de operações para controle de pragas e plantas daninhas. Na verdade o custo da maioria dos volumosos é altamente dependente da produtividade, ou seja, quando maior a produção, menores são os custos/tonelada. Mais importante que isso é o reflexo que pode gerar a falta de volumoso suficiente para alimentar o rebanho e o aumento de desembolso com concentrado para compensar a falta de volumoso. Se esse alimento é tão nobre dentro da fazenda, é imprescindível diminuir as perdas do mesmo, que geralmente acontecem por mal aproveitamento das pastagens ou por perdas durante o armazenamento dos alimentos, como as silagens. Além de existir muita perda de silagem estragada, existe outro “inimigo invisível” que são as micotoxinas produzidas pelos fungos, que estão presentes nas silagens e grãos mal armazenados. Essas micotoxinas podem gerar diminuição de desempenho, de saúde e vários problemas reprodutivos. Isso significa que além das perdas por desperdício, o produtor precisa conhecer melhor os prejuízos causados pela baixa qualidade dos alimentos conservados e tentar prevenir os efeitos negativos, melhorando o armazenamento e utilizando adsorventes de micotoxinas.
  3. Produzir com qualidade: “Contínuo aperfeiçoamento, eliminação do desperdício, fazer as coisas certas da primeira vez, rápida preparação das máquinas e comprometimento do pessoal” (Sérgio Diniz). Apesar de existir uma oferta de mão-de-obra muito superior nas cidades, o problema relacionado a qualidade da mesma é algo que aflige a todos os empresários. Portanto, aperfeiçoar a equipe (funcionários e patrões) é essencial. Diminuir o desperdício começa desde coisas básicas relacionadas a fábrica de ração, a silagem que cai fora do cocho, a quantidade de detergente para limpeza de ordenha etc. Tudo isso tem tudo a ver com a preparação das máquinas, pois nossas fazendas ainda usam poucos maquinários devido ao passado recente de custo de mão de obra barato. No entanto, isso está acabando, pois o salário mínimo cresce a taxas fortes ano a ano. Não adianta lutar contra isso, pois a eficiência da equipe, que pode ser medida pela quantidade de leite que é produzida na fazenda dividida pelo número de pessoas envolvidas na produção de leite (litros/dia homem) é o principal diferencial se as fazendas são rentáveis ou não. Quanto maior esse indicador, maior é a tendência de maior rentabilidade, por consequência, mais preparada está a fazenda para passar por momentos de crise.
  4. Acompanhamento mensal dos custos: “identificar qualquer variação fora do normal, para permitir a tomada de decisão que evite prejuízo” (Sérgio Diniz). É comum nesse momento, buscarmos subprodutos para diminuir os custos da dieta. Para que isso seja bem feito, lembrar-se dos conceitos discutidos acima é essencial, pois não é interessante diminuir o custo em X reais e, por consequência, diminuir a receita em X reais também. Esse é o conceito que muitos produtores usam e que é chamado por alguns especialistas como a “lei dos rendimentos decrescentes”. Por exemplo, se o meu concentrado custa R$ 1,00/kg e o leite é vendido por R$ 0,90/litro, aumentar 1 kg de concentrado e obter apenas 1 litro de leite não seria economicamente viável. O que é preciso ressaltar neste momento é que biologia não é matemática, ou seja, os produtores que estão todos os dias com seus animais e os conhecem bem, muitas vezes fazem essa mesma conta, mas procuram “OLHAR” para as vacas. Pois elas nos “dizem” se estão bem de saúde ou não, além do que o desempenho reprodutivo não pode ser esquecido de maneira alguma. Portanto, o bom senso e a experiência de produtores e consultores devem ser levados em consideração.
  5. Manter um efetivo controle do fluxo de caixa: O controle das contas a pagar e a receber, além de analisar o que poderá acontecer nos próximos meses, é importante para o produtor ter mais noção sobre os seus compromissos e onde ele pode atuar. Muitos já conseguem um nível de planejamento do fluxo de caixa que permite fazer algumas reservas financeiras durante os meses mais positivos para fazer uma compra estratégica, de determinado insumo, no momento em que este está em baixa de preço.
  6. Compatibilizar os prazos das compras e das vendas: “Evitar um desequilíbrio financeiro, que afete o fluxo de caixa e a necessidade de capital de giro” (Sérgio Diniz). Outra dica que tem tudo a ver com a pecuária de leite, pois além dos momentos de crise, existem os momentos de bonança, e é neste momento que o produtor precisa se organizar, para passar pelo momento de crise sem se atrapalhar e fazer muitas dívidas.
  7. Vender bem: O autor descreve sobre a importância de manter as condições de preço, prazo, condições de pagamento e pontualidade. Diante disso, devemos pensar nos animais, já que o preço do leite sofre outras variações. Manter o equilíbrio e a qualidade dos animais a serem comercializados é uma das estratégias para aqueles que querem manter o “nome” respeitado no mercado de comercialização de animais. Todo e qualquer desespero pode jogar por terra o trabalho de anos para conquistar uma boa clientela.
  8. Rever constantemente o planejamento: “Avaliando e revisando as metas, os objetivos e as estratégias” (Sérgio Diniz). Todos já ouviram aquela frase: “Fazenda é sempre fazendo.” Isso na verdade está relacionado a dois fatores, um de caráter emergencial e outro relacionado ao planejamento. O primeiro está mais relacionado aos empresários que não possuem planejamento e, por isso, sempre estão ocupados em resolver os problemas que aparecem no dia a dia da fazenda. No segundo caso, existe um planejamento e os empresários estão sempre atentos em dar manutenção a sua propriedade, por isso, o número de “problemas” emergenciais tendem a ser menores.

Ninguém gosta ou está completamente preparado para passar por uma crise. Mesmo assim, é possível ver a lógica que faz a diferença entre os que sentem mais ou menos os efeitos de um momento adverso. Pensar no bolso e nas vacas é essencial para uma boa administração do próprio negócio. Por isso, trabalhar com fluxo de caixa, custo de produção, com alta qualidade de volumoso, com poucos desperdícios e alta eficiência de mão-de-obra são dicas para uma fazenda eficiente. Isso tudo só é possível se tivermos vacas com boa capacidade de produção, longevas, com baixa CCS, sem problemas de casco e com a reprodução em dia. Por isso, é preciso estar atento as ferramentas que existem para melhorar a eficiência produtiva e a saúde dos animais.

Autor: Daniel Navarro, zootecnista pela Universidade Federal de Viçosa, mestre em Produção de Ruminantes pela Universidade Federal de Viçosa. Atualmente é gerente de vendas da Alltech.

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